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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Cruz de Lorena: símbolo que os fiéis levantam no abandono geral de Cristo

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Com relativa frequência os católicos veneram uma Cruz com duas traves. Trata-se da cruz patriarcal. Leva esse nome porque é usada pelos Patriarcas católicos desde o século XV.

Mas há também a chamada Cruz de Lorena. Esta é de todo análoga à patriarcal, mas tem uma história peculiar que começou nas Cruzadas. Eis a origem.

Jean II senhor de Chasteaux, no Anjou, governou seu feudo de 1200 a 1248. Em 1239, foi para a Cruzada acompanhando a Thibault IV duque de Champagne.

Na ilha de Creta, em agosto de 1241, recebeu de D. Thomas, bispo de Hiérapetra, um pedaço da Santa Cruz com forma de cruzeiro a duas traves.

De retorno a sua terra natal, o Anjou, Jean II vendeu a relíquia aos cistercienses da abadia de la Boissière. A abadia ficava perto do seu castelo pelo que era fácil ir venerá-la. Foi uma decisão difícil. Mais Jean II ficara muito endividado porque os nobres financiavam a Cruzada de seu próprio bolso.

Brasão com a Cruz de AnjouNo século XIII, a relíquia do Santo Lenho foi posta num relicário esplêndido. E ficou exposta numa capela votiva, ainda existente.

Durante a guerra dos Cem Anos, os monges confiaram a custódia da relíquia ao duque de Anjou, Luis I, cujo castelo ficava em Angers.

O duque era devoto do Santo Lenho. Ele erigiu uma confraria para melhor louvá-lo: a “Ordem da Cruz”.

Também fez bordar uma cruz dupla nas tapeçarias do Apocalipse executadas por Nicolas Bataille.

Durante a guerra dos Cem Anos, a relíquia foi e voltou diversas vezes entre o castelo e a abadia.

Ficou com os monges de modo definitivo em 1456. Nessa época já era reverenciada como a Cruz Dupla de Anjou.

castelo de AngersA relíquia foi preservada da fúria anti-cristã da Revolução Francesa, e está até hoje na capela des Incurables, no hospício de Baugé.

O duque de Anjou imortalizado com o nome do Bon roi René (1408-1480), tornou-se duque de Lorena casando com a princesa Isabelle, herdeira do ducado e levou a devoção pela Cruz de Anjou à Lorena.

Seu neto René II defendeu heroicamente a Lorena levando nas suas bandeiras a cruz dupla.

Após a vitória de Nancy em 5 de janeiro de 1477, René II gravou a cruz no seu escudo.


Ele foi imitado por seus súditos, notadamente pela cidade de Nancy.

Assim a Cruz de Anjou também tornou-se a Cruz de Lorena.

A segunda trave da Cruz, pelo geral menor e por vezes inclinada, representa o “titulus crucis”, a inscrição que Póncio Pilatos mandou colocar na Cruz do Redentor: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (INRI).

A cruz dupla foi também o primeiro emblema dos reis da Hungria desde o rei Bela III (1148-1196).

Acresce que a coroa da Hungria passou por casamento à casa de Anjou. Foi assim que Luis I (1342-1382) de Hungria e da casa de Anjou gravou a Cruz de Lorena em suas armas.

E Carlos-Roberto I, da mesma família, a fixou no escudo do reino. Da Hungria passou para a vizinha Eslováquia.

A Cruz de Lorena, na Hungria é associada ao título de Rei Apostólico que o Papa Silvestre II concedeu a Santo Estevão. 

O santo foi sagrado como primeiro rei do país, no Natal do ano 1000. A esposa de Santo Estevão também tem culto de Santa, assim como seu filho Santo Américo.

O atual escudo nacional da Hungria é basicamente o de Luís I de Anjou e Hungria. Ele ficou definitivamente estabelecido no tempo da imperatriz Maria Teresa da Áustria.

A Cruz de Lorena foi, além do mais, o insigne símbolo da Liga Católica. Esta coalizão impediu que a França ficasse calvinista nas Guerras de religião provocadas pelos protestantes. Os líderes da Liga pertenciam à família de Guise, dos duques de Lorena.

Cruz de Lorena, da resistênciaA Cruz de Lorena foi adotada pelos franceses inconformados com a dominação nazista de seu país durante a II Guerra Mundial.

Eles a consideraram como o mais apropriado símbolo da França contra a pagã cruz gamada.

Foi assim que a Cruz de Lorena ‒ de Anjou e Hungria ‒ passou a ser o símbolo das minorias fiéis que na hora do abandono geral levantam a Cruz de Cristo e iniciam uma epopéia de resistência saindo de um modo admirável do zero, atravessando inúmeras humilhações e problemas, até que a Providência, no fim, as premia com a vitória que de início se afigurava humanamente impossível.

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7 comentários:

Eduardo disse...

Grande BLOG...
Parabens....
abraços

Anônimo disse...

Muito bom! Obrigado pelas informações. Gostaria receber sempre outras informações sôbre este e outros tipos de história desse estilo.

Anônimo disse...

obrigado por compartilhar a informação.

Anônimo disse...

A presença desta cruz se faz na região missioneira do Rio Grande do Sul. Os catequizadores jesuitas espanhois a trouxeram para cá e hoje ela faz parte da cultura do povo gaúcho

tony ferreira disse...

Alguém pode me ajudar, pois quero comprar a cruz de Lorena com a corrente. Preciso saber em qual relojoaria encontro aqui em porto alegre.

Unknown disse...

Ótimo blog, muito boa as informações contidas aqui, uso pra pesquisa.

Unknown disse...

Muito explicativo sobre esse e outros artigos!!!